*Texto em parceria com Filipe Sena, criador do Cachorros de Bikini. Passem lá pra ver as "Filipices" desse rapaz, que vale a pena!!!
**Postagem coletiva do grupo Escritores da Era do Compartilhamento - Amores Finitos
(Imagem by Google)
O Amor dela acabou.
Dava pra ver nos olhos dela. Ela estava na minha frente, mas só me olhava
quando não podia evitar. Tentava disfarçar, conversava como se nada tivesse
acontecido, ria como sempre e parecia tão incomodada com a música do lugar
quanto sempre. Tudo estava igual… Menos os olhos.
Ela se orgulhava de
conseguir enganar qualquer um, mas comigo era diferente, bastava olhar nos
olhos dela para lê-la como um livro infantil. Mais imagens do que palavras e
sem significados ocultos. Ela contou uma meia duzia de mentiras e eu não
acreditei. Foi como a gente se conheceu, foi quando o amor apareceu nos olhos
dela.
Quando me falavam dela
diziam que ela não prestava, que tinha namorados e amigos quase como um
material descartável. “Ela se cansa rápido das pessoas”, me diziam,
“Relacionamentos já nascem com prazo de validade, qualquer dia eu descubro qual
o prazo do nosso”, me dizia ela. Eu sabia que ela não estava mentindo.
Antes dela minha vida
não tinha muita cor, nem cheiro e nem sabor. A mudança não demorou. Com ela
vieram todas as cores, odores desconhecidos e sabores fortes, doces e amargos.
Principalmente os amargos. Amargo de travar na garganta, de deixar careta
depois de passar. Melhor do que qualquer doce que eu já provei. “Não seja tão
doce, doce demais qenjoa”, ela dizia de mim, mas eu nem ligava.
Talvez fosse disso que ela realmente gostava, de ter alguém menos amargo, com
gosto mais fraco e que não desafiava o paladar… Mas houve um dia, me lembro
como se fosse agora, quando ela me olhou e nos olhos dela não havia nada para
mim. Nem amor, nem mentiras.
Hoje estamos aqui.
Juntos. Mas não vejo mais amor nos olhos dela. Talvez ela não queira admitir.
Se recusa a reconhecer o corpo inerte do amor que ela um dia teve por mim. Quem
sabe ela conseguiu se enganar de tal maneira que ficou impossível perceber o
pobre sentimento morto estirado na nossa frente... No final não importa se ela
não sabe ou finge não saber. Eu sei. Acabou. O amor dela morreu.
* * *
O amor
dele parecia infinito. Os olhos atentos aos meu gestos me deixavam nervosa. Eu
tentava não fitá-lo. A música me incomodava, mas ele parecia gostar. Eu falava,
falava tanto que parecia um monólogo. Apenas meus olhos podiam me denunciar.
Nunca entendi bem de amores infinitos.
Era
estranho agora, ele tinha a certeza de me conhecer bem, mas eu sempre fora boa
em enganar. Nunca gostei de ser lida nem adivinhada,. Eu falei qualquer coisa e
ele riu, como se em nada acreditasse. Nunca entendi de credibilidade, mas
gostei daquele riso doce. Curioso é que pra ele eu quase não mentia, não via
muita razão. Embora ele me cansasse como todos os outros, acabou se mostrando
uma companhia muito melhor do que o esperado. As pessoas diziam horrores sobre
mim e ele ria, sempre ria. Nunca desejei nada a longo prazo, e nisso ele
acreditava. Amor só dura o tempo que durar, um ano, um mês, um dia. Com ele
durou um pouco mais.
Causei
alguns estragos, eu sei. "Doce demais" eu lhe dizia, a vida dele
parecia morna e não havia alegria. Então eu cheguei feito um estrondo, como na
musica que ele ouvia pra lembrar de mim. Invadi sem discrição, eu o fiz
rir e chorar, mas ele continuou suave, risonho, amoroso. Eu sabia que era
intensa, ardente, por vezes assustadora. Rasguei sua poesia com unhas fortes e
afiadas, deixei que se inebriasse de mim como um veneno viciante. Ria de suas
pequenas trapalhadas, causava certo mal por mero prazer, mas gostava desse
sabor que era ele, diferente de tudo que travava na minha garganta ele me
descia fácil. Era quase como se pudesse ser eterno. Só que nunca me interessei
por eternidade. Um dia olhei nos olhos dele e em mim não havia nada.
Hoje
estamos juntos aqui, eu olho pra ele e tudo o que eu nunca soube, mas tentei
entender, se estende diante de nós. Um sentimento curvado que eu bem sei como
é. Difícil é admitir. No fundo eu sei que ele sabe. O meu amor acabou.
(A música citada no texto é essa aqui )
Links dos demais textos com o mesmo tema:
Leca Lichacovsck Não acredito em amores finitos
Jeessy Batista
Cíntia Gomes Você não sabe o que é amor
Juliane Rodrigues Poucos parágrafos e um fim.
(A música citada no texto é essa aqui )
Links dos demais textos com o mesmo tema:
Leca Lichacovsck Não acredito em amores finitos
Jeessy Batista
Cíntia Gomes Você não sabe o que é amor
Juliane Rodrigues Poucos parágrafos e um fim.