Se eu dissesse que viver não dói, de vez em quando, seria
mentira. E eu disse que não mentiria.
Então eu não podia dizer nada; mas lá no fundo ela me
percebia. E que assustador ser vista assim, por quem por vezes desconheço, e
mesmo assim me sabe tão bem.
E ela insistia que reparava em mim, e no começo eu não
acreditei. Não que eu pensasse que era mentira, não mesmo. Só que achei que não
era observação. Era um olhar apenas, desses que a gente derrama com certo
carinho e nada mais.
E ela me deu medo.
Me deu pavor, na verdade!
Ela podia amar tanto quanto eu podia.
Ela podia se dedicar
tanto quanto eu podia, até mais, eu acho. Porque eu já estava cansada da
estrada e ela ainda tinha muito pra caminhar.
Um dia eu tive raiva dela. Sei lá, dessas raivas que a gente
sente é quer agredir o outro de qualquer maneira, mas lá no fundo, a gente
agride a gente mesmo... e daí eu falei. Falei mesmo.
Falei que estava cansada, atirei bem no meio da cara dela, um
resumo do que eu já tinha passado.
Eu queria mesmo era que ela gritasse de volta, bem no meio da
minha cara, que eu era esnobe, chata, e metida e sabe tudo.
Já pensou? Seria perfeito pra eu desistir dela. Fim, coisa rápida,
quase indolor.
Mas ela me disse simplesmente que já tinha vivido o mesmo.
E eu a amei mais um pouco.
Ela me disse que eu não olhava pra certas pessoas pra não me
ver refletida nelas, que eram minha “kriptonita”; eu ri alto. Alto mesmo. Desses
risos frouxos carregados de certa loucura.
Minha kriptonita era ela.
Era por ela que meu poder falhava, assim como era ela que alimentava a minha força.
Era dela que eu precisava todos os dias. Uma palavra, um
sorriso, qualquer coisa...
E então, eu olhei bem nos olhos dela, bem fixo mesmo, e
cheguei bem perto do espelho e disse:
-Eu amo você!
A moça do reflexo sorriu. Estávamos prontas para vida e era
só segunda-feira